Por C.H. Spurgeon
Na supervisão e direção de uma igreja é necessário o auxílio do Espírito. No fundo, o principal motivo da divisão de nossa denominação está na dificuldade proveniente do nosso governo eclesiástico. Tem-se dito que "tende à intranqüilidade do ministério." Sem dúvida, é muito penoso para quem suspira pelas dignidades oficiais e sente necessidade de ser o Excelentíssimo Senhor Oráculo, diante de quem até um cachorro fica proibido de latir. Os incapazes de dirigir algo além de bebês são justamente as pessoas que têm maior sede de autoridade e, vendo-se mal aquinhoados dela nestas partes, procuram outras regiões. Se você não pode governar-se a si próprio, se não é varonil e independente, se não é superior quanto ao peso moral, se não tem maior dom e graça do que os seus ouvintes comuns, poderá vestir uma toga e ter a pretensão de ser o líder da igreja — mas, não numa igreja de governo batista ou neotestamentário. De minha parte, detestaria ser pastor de pessoas que nada têm que dizer, ou que, se chegam a dizer algo, bem podiam ter ficado caladas, pois o pastor é Sua Excelência, o Soberano, e os demais são leigos — cada qual um João-ninguém. Preferiria antes ser líder de seis homens livres, cujo entusiástico amor fosse o meu único poder sobre eles, do que bancar ditador de uma vintena de nações escravizadas.
Que posição é mais nobre do que a do pai espiritual que não se arroga autoridade e, todavia, é estimado por todos, e cuja palavra é dita apenas como terno conselho mas é recebida i Orno tendo força de lei? Ao consultar os desejos de outros, vê que o primeiro desejo deles é saber o que ele recomenda e, cedendo sempre aos desejos de outros, vê que se alegram em ceder aos seus. Amorosamente firme e generosamente gentil, é o chefe de todos porque é servo de todos. Isto não requer sabedoria do Alto? Que poderia ter maior necessidade dela? Quando Davi se estabeleceu no trono, disse: "É Ele que submete a mim o meu povo." E assim pode falar todo feliz pastor quando vê tantos irmãos de temperamentos diversos querendo alegremente estar sob disciplina e aceitar a sua liderança na obra do Senhor. Se o Senhor não estivesse entre nós, logo haveria confusão. Ministros, diáconos e presbíteros, todos precisam ser sábios, mas se o pombo sagrado parte, e o espírito de contenda entra, é o fim para nós. Irmãos, o nosso sistema não funcionará sem o Espírito de Deus, e me alegra que não funcione, pois as suas paralisações e suas roturas chamam a nossa atenção para o fato da Sua ausência. Nunca se teve a intenção de que o nosso sistema promovesse a glória de sacerdotes e pastores, mas é planejado para educar cristãos varonis, que não releguem a sua fé à segundo plano. Que sou eu, e que são vocês, para que devamos ser senhores dominando a herança de Deus? Algum de nós se atreverá a dizer com o rei francês, "L'état, c'est moi" — o estado sou eu" — eu sou a pessoa mais importante da minha igreja? Se for assim, não é provável que o Espírito Santo faça uso desses instrumentos inadequados. Mas se conhecemos os nossos lugares e desejamos conservá-los com toda a humildade, Ele nos ajudará, e as igrejas florescerão sob os nossos cuidados.
Fonte: Lições aos meus Alunos - Volume 1 - C. H. Spurgeon - Editora PES
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