Por Paulo Brado
A experiência do exílio não produziu apenas uma nova idéia de Deus; promoveu o surgimento de uma nova idéia de futuro e do desenrolar da história.
Anteriormente Jerusalém era vista como habitação perene e invulnerável da glória divina; sua queda exigiu uma inusitada reavaliação dessa crença. De que forma conciliar a promessa da linhagem perpétua de Davi com a imagem de Jerusalém em chamas? Como harmonizar a promessa do glorioso destino de Israel com os infortúnios e embaraços do cativeiro? Como interpretar o esplendor da promessa diante do escândalo do exílio?
Pressionados ou aclarados pelas contradições dessa nova condição, os profetas começaram a visualizar e anunciar um momento de restauração futura. A presente condição podia parecer sem esperança, apregoavam eles, mas haveria um momento do futuro em que Deus recuperaria a glória da nação e restabeleceria o trono de Davi.
Nesse futuro iminente Jerusalém seria restaurada, e a nação seria guiada no caminho da sabedoria e da devoção por um líder justo e destemido da descendência de Davi. Todas as tribos retornariam à terra prometida, abandonando para sempre a rebelião e a idolatria; haveria paz e prosperidade, e as nações pagãs se dobrariam finalmente diante do Senhor, trazendo suas riquezas e deixando-as como contrito tributo aos pés de Jerusalém.
No horizonte além das chamas, prometiam os profetas, aguarda com sua espada invencível e um cetro de conciliação um formidável messias. Bastava estender os olhos para pressenti-lo, avançando do futuro em nossa direção.
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro…” (Jeremias 23:5,6)
Na mais profunda agrura do exílio, portanto, os profetas produziram a luz da esperança messiânica. Deus não se esqueceu de nós, garantia ela; um rei virá para nos salvar.
A crença na vinda do messias acabou abrindo espaço para outra, com a qual acabaria se confundindo. Pois alguns escritos dos profetas não prometiam apenas uma restauração nacional ocorrida dentro do âmbito da história; anunciavam o encerramento da própria história, acompanhado de uma radical transformação da ordem natural das coisas – uma esperança escatológica, isto é, que dizia respeito e pressupunha um definitivo fim dos tempos.
“Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; e o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e a desmamada meterá a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:6-9)
“E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Isaías 2:4)
Este universo renovado é anunciado como “um novo céu e uma nova terra”, em que todos viveriam em paz perpetuamente e no âmbito dos quais a própria morte seria aniquilada para sempre (Isaías 25:7,8).
Embora estejam assentadas sobre bases distintas, tanto a promessa messiânica quanto a esperança escatológica explicavam que os justos podiam esperar uma salvação a ser experimentada ainda nesta terra. Não existia, para uma ou para outra, o conceito de uma salvação que não fosse terrena. Animais, seres humanos e o próprio messias experimentariam a paz e a prosperidade na terra (embora seja “nova” ou “renovada”, é ainda a terra) e não no céu.
Na verdade, a promessa escatológica não anunciava que os homens subiriam para uma vida eterna no céu, mas que o próprio Deus desceria à terra para reinar eternamente ao lado dos homens (Zacarias 14:4-9, Ezequiel 43:6-7).
É uma diferença importante, que os desdobramentos posteriores relegariam a um segundo plano.
Anteriormente Jerusalém era vista como habitação perene e invulnerável da glória divina; sua queda exigiu uma inusitada reavaliação dessa crença. De que forma conciliar a promessa da linhagem perpétua de Davi com a imagem de Jerusalém em chamas? Como harmonizar a promessa do glorioso destino de Israel com os infortúnios e embaraços do cativeiro? Como interpretar o esplendor da promessa diante do escândalo do exílio?
Pressionados ou aclarados pelas contradições dessa nova condição, os profetas começaram a visualizar e anunciar um momento de restauração futura. A presente condição podia parecer sem esperança, apregoavam eles, mas haveria um momento do futuro em que Deus recuperaria a glória da nação e restabeleceria o trono de Davi.
Nesse futuro iminente Jerusalém seria restaurada, e a nação seria guiada no caminho da sabedoria e da devoção por um líder justo e destemido da descendência de Davi. Todas as tribos retornariam à terra prometida, abandonando para sempre a rebelião e a idolatria; haveria paz e prosperidade, e as nações pagãs se dobrariam finalmente diante do Senhor, trazendo suas riquezas e deixando-as como contrito tributo aos pés de Jerusalém.
No horizonte além das chamas, prometiam os profetas, aguarda com sua espada invencível e um cetro de conciliação um formidável messias. Bastava estender os olhos para pressenti-lo, avançando do futuro em nossa direção.
“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro…” (Jeremias 23:5,6)
Na mais profunda agrura do exílio, portanto, os profetas produziram a luz da esperança messiânica. Deus não se esqueceu de nós, garantia ela; um rei virá para nos salvar.
A crença na vinda do messias acabou abrindo espaço para outra, com a qual acabaria se confundindo. Pois alguns escritos dos profetas não prometiam apenas uma restauração nacional ocorrida dentro do âmbito da história; anunciavam o encerramento da própria história, acompanhado de uma radical transformação da ordem natural das coisas – uma esperança escatológica, isto é, que dizia respeito e pressupunha um definitivo fim dos tempos.
“Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; e o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e a desmamada meterá a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:6-9)
“E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Isaías 2:4)
Este universo renovado é anunciado como “um novo céu e uma nova terra”, em que todos viveriam em paz perpetuamente e no âmbito dos quais a própria morte seria aniquilada para sempre (Isaías 25:7,8).
Embora estejam assentadas sobre bases distintas, tanto a promessa messiânica quanto a esperança escatológica explicavam que os justos podiam esperar uma salvação a ser experimentada ainda nesta terra. Não existia, para uma ou para outra, o conceito de uma salvação que não fosse terrena. Animais, seres humanos e o próprio messias experimentariam a paz e a prosperidade na terra (embora seja “nova” ou “renovada”, é ainda a terra) e não no céu.
Na verdade, a promessa escatológica não anunciava que os homens subiriam para uma vida eterna no céu, mas que o próprio Deus desceria à terra para reinar eternamente ao lado dos homens (Zacarias 14:4-9, Ezequiel 43:6-7).
É uma diferença importante, que os desdobramentos posteriores relegariam a um segundo plano.
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