segunda-feira, 2 de junho de 2008

Pensadores Modernos VIII

Temperança
Por C.S.Lewis
Temperança, infelizmente, é uma dessas palavras que mudaram de sentido. Ela agora normalmente significa total abstinência à bebibda alcoólica. Mas nos dias em que a segunda virtude cardeal era a "Temperança" cristã, ela não tinha esse significado. A temperança nada tinha a ver com a bebida em particular, mas com todos os prazeres; o seu sentido não era a abstenção, mas o uso conveniente. É um equívoco pensar que os cristãos devem todos ser abstêmios; o Maometismo, e não o Cristianismo, é que é a religião abstêmia. É claro que pode ser o dever de um certo cristão, ou qualquer cristão, abster-se de bebidas fortes, em certas circunstâncias; talvez por não poder beber sem beber demais, ou porque está acompanhado de pessoas inclinadas à embriaguez e não deseja estimulá-las, bebendo também. Mas o que importa é que ele tem uma boa razão para se abster de algo que não condena, e que gosta de ver outros usufruindo. Uma coisa que caracteriza a ação do homem mau é que ele, se tem que renunciar alguma coisa, exige que todo mundo também o faça. Essa não é uma atitude cristã. O cristão pode achar conveniente renunciar a toda espécie de coisas por motivos particulares: o casamento, comer carne, tomar cerveja, ou ir ao cinema; mas se começar a dizer que essas coisas são más em si mesmas, ou desprezar os que dela se servem, está no caminho errado.
Esta moderna restrição da palavra temperança à bebida causou um grande mal. Ajudou-nos a esquecer que podemos ser igualmente intemperantes a respeito de uma porção de outras coisas. Um homem que faz do futebol ou da moto o centro da sua vida, ou uma mulher que só pensa em vestidos, no jogo de bridge, ou no seu cachorro, está sendo tão intemperante quanto alguém que se embriaga todas as noites. Sem dúvida, não fazem cair no meio da rua. Mas Deus não se engana com as aparências.
Próximo estudo: Fazer e Gerar

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