sábado, 1 de março de 2008

Entendendo a cristologica da igreja primitiva

Por Leandro Louzada
Resenha Crítica
CULLMAN.O.Cristologia do novo testamento: O problema cristológico no cristianismo primitivo.pg.17 à 27.

Dr. Oscar Cullmann (25 de Fevereiro, 1902 em Strasbourg - 16 de Janeiro, 1999 em Chamonix) foi um teólogo cristão francês e luterano, é considerado uma das maiores autoridades em assuntos do Novo Testamento e da Igreja Primitiva. Estudou filosofia e filosofia clássica. Em 1938 começou a lecionar Novo Testamento e História da Igreja Primitiva na Faculdade de Teologia da Universidade de Besel, Suíça, e em 1949, em Paris, obteve a cadeira de Cristianismo Primitivo, na renomada Sorbonne, na Escola de Altos Estudos e na Faculdade Protestante de Teologia.

O autor começa a introdução do seu livro mostrando a imagem que muitos teólogos defendem, acerca da visão cristológica primitiva. Ele vai mostrar que para eles, os cristãos primitivos não preocupavam muito com a doutrina da pessoa de Cristo, colocavam como segundo plano, Deus era o primeiro plano, suas idéias partiam de Deus. Podemos ver em tratados teológicos do NT e credos, essa mesma idéia exposta. Esta é uma idéia errônea, por motivo de má interpretação bíblica e dos credos.
Segundo ele não é bem isso que podemos observar no Novo Testamento, que é a fonte primordial, que encontramos relatos da igreja primitiva. Nos credos mais recentes também é mostrado a importância de Cristo na história da igreja. Relatos bíblicos nos mostra que Cristo não estava presente apenas na obra redentora, mas antes que tudo tivesse sido formado, Ele já existia. Os credos nos mostra a mesma coisa, os mais antigos colocam Deus na frente, os posteriores colocam a pessoa de Cristo na frente, é alternado somente a ordem. Ele mostra que o pensamento dos primeiros cristãos parte de Cristo, ele diz:
Em outras confissões de fé muito antigas, onde se trata de Deus, este não aparece como Criador mas como o “Pai de Jesus Cristo”. Apresentam-no como aquele que ressuscitou a Cristo (Policarpo 2.1 ss). Isso prova que o pensamento teológico os primeiros cristãos parte de Cristo e não de Deus. (Cullman.p.18)
Para provar o seu argumento ele expõe algumas passagens das Escrituras, que comprovam a importância primordial da igreja primitiva, pela pessoa de Cristo. Uma delas é Hebreus 1.10, que fala que a fundação da terra foi feita pelas mãos de Deus, também cita 2 Corintios 13.13, que é a famosa benção apostólica que recebemos sempre aos finais de nossos cultos que diz: “A graça de Nosso Senhor Jesus, e o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo”.
Fica bastante visível em sua abordagem, que os cristãos primitivos importavam exclusivamente de uma teologia cristológica, ao contrario da opinião e pensamento de alguns teólogos. A igreja tinha um pensamento fitado na cristológia, mas enfrentava alguns problemas no entendimento dessa doutrina.
Os debates cristológicos estão todos direcionados para pessoa de Cristo, durante o decorrer da história, muitas teorias apareceram, para explicar quem realmente era Jesus Cristo, isso causou o surgimento de varias doutrinas infundadas, mas para entender o problema vivido pelos primeiros cristãos, temos que deixar de lado essas discussões posteriores e analisarmos mais a frente.
Cullman coloca de forma bastante clara a idéia da pessoa de Cristo no NT, usando o evangelho de João, que trata do logos encarnado, mostrando que para falarmos de Cristo temos que associá-lo com sua obra:
Com efeito, no Novo Testamento não se fala quase nunca da pessoa de Cristo sem que se trate, ao mesmo tempo, de sua obra. Inclusive no prólogo do Evangelho de João, onde se diz que “O logos estava com Deus e era Deus, se acrescentado imediatamente que por esse “Logos” todas as coisas foram feitas”; o que significa que ele é o mediador da criação.”(Cullman.p.20).
Cristo é mostrado como o Criador do mundo, de fato Ele é o Emanuel, no livro introdução à teologia cristã de Justo González e Zaida Pérez podemos ver um relato que nos mostra um pouco da idéia que o NT, tinha acerca de Cristo.
No NT, Jesus nos é apresentado como muito mais que um ser humano, ou um mestre extremamente sábio, ou um personagem particularmente santo. Jesus é nada menos que o Verbo de Deus feito carne, o Senhor criador de tudo quanto existe. Jesus é divino. (Gonzáles e Pérez.p.121)
O NT esta repleto de títulos diferentes atribuídos a Cristo, o autor diz que esses títulos servem para mostrar a relação entre Deus e a pessoa de Cristo. Mas esses títulos pode se tornar perigosos e entrar em conflito com o Jesus histórico e o Jesus da fé cristã. Jacques Dupuis, em seu livro, Introdução á Cristologia fala um pouco sobre este perigo.
Recentes debates sobre a expressão “Filho do homem” ressaltam quanto cuidado se há de ter nessa temática dos títulos cristológicos. Incompleta em si mesma, a cristologia dos títulos mostra-se intrinsecamente limitada no concernente à história humana concreta de Jesus, correndo o risco assim de cair no abstrato... Traz também o problema da continuidade e descontinuidade entre o Jesus da história e o Cristo da fé. (Dupuis.p.32).
Para entendermos o problema cristológico da igreja primitiva, temos primeiro que entender, que o conflito das naturezas é um problema grego e a tradição primitiva de cristólogia é judaica e bíblica. O grande problema é que os primeiros cristãos que viviam no mundo grego respondiam o problema cristologicos com idéias que já existiam, e eram atribuídas a outros deuses, isso poderia mostrar que o cristianismo é uma fé baseada no paganismo. Cullman fala que, Cristo trouxe uma idéia nova, que era acima de todas as religiões e crenças pagãs, e os cristãos usaram essas idéias para provar sua fé aos outros, mostrando a superioridade de Cristo e do Cristianismo.
O problema Cristológico já é visto durante a vida de Cristo, os seus próprios discípulos que andavam com Ele, tinham varias idéias de quem realmente era Cristo, cada um o enxergava de uma forma. Por isso para entendermos a cristologia precisamos estudar todos os títulos atribuídos pelos primeiros cristãos a Jesus. Cada título que Jesus foi encaixado tem o seu significa e importância particular.
É essa proposta que Cullman nos oferece, mostrando que ao longo do seu livro, abordará esses títulos, mas primeiro partindo do Judaismo, das religiões gerais que apareceram ao longo da história e do Helenismo, para então chegarmos nos títulos atribuídos pelo NT.
Nosso plano parte do principio cronológico, válido para toda a cristologia do NT: “Cristo, o mesmo ontem, hoje, e em todos os séculos por vir”. Cristo está ligado a toda a história da revelação e da salvação, desde a criação;eis aí, como já o temos visto, um traço essencial da cristologia do NT. Não há historia da salvação sem cristologia; logo não há, tampouco, cristologia sem uma história da salvação que desenvolva no tempo. A cristologia não é, portanto uma ciência das “naturezas” de Jesus Cristo, mas a ciência de um “acontecimento”, de uma história. (Cullman.p.27)
Pela introdução vejo que o livro é bastante interessante, o que mais me chamou atenção, é o modo que precisamos entender a cristologia e os problemas cristologicos do NT, que é bastante diferente dos problemas neotestamentários. Estou muito curioso para saber o que Cullman irá tratar nas próximas linhas. Como diz aquele ditado, “A primeira impressão é a que fica”. Ele me passou uma ótima impressão.

Referências Bibliográficas:
GONZÁLEZ,J.PÉREZ,Z.Introdução à teologia cristã. Santo André (SP): Academia cristã,2006.p.121.
DUPUIS,J.Introdução à cristologia. 3. ed. SãoPaulo: Edições paulinas,1999.p.32
CULLMAN.O.Cristologia do novo testamento: O problema cristológico no cristianismo primitivo.p.17-27.

Um comentário:

  1. Oscar Cullmann

    Neste trabalho exegético, o autor elegeu a história como categoria essencial da teologia Bíblica do Novo Testamento. Cristo está ligado a toda história de revelação e salvação, desde a criação. Este é um traço essencial da Cristologia do Novo Testamento. Este livro é fundamental tanto para Biblistas quanto para dogmatas, ao servir de modelo, contribui também para a discussão sobre Método Teológico à medida que esclarece a conceituação cristológica neotestamentária e aponta para alguns enganos da cristologias escolásticas, tanto católicas quanto protestantes.

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