domingo, 18 de setembro de 2011

Aquarela

Por Thiago Nardoto

Na minha infância a música Aquarela de Toquinho sempre me impressionou, principalmente, e é lógico, por causa da propaganda da Faber Castel. Uma música que instiga a mente das crianças, sentia que podia construir tudo com a minha mente quando ouvia Aquarela, me divertia com as batidas da música, e adorava a animação da Faber na propaganda. Achei a animação da Faber de 1995. Que delícia aquele tempo!
Mas depois que comecei a ficar mais velho passei a entender a mensagem da música. Se ouvirmos até o final perceberemos que a música fala de morte, mas não no sentido negativo, e sim no sentido de que a vida está acontecendo e que temos na mão o poder de transformá-la.
Podemos dizer que nas duas primeiras estrofes os verbos estão no presente do indicativo e a voz é ativa, na primeira pessoa do singular, ou seja, o camarada que está cantando está completamente envolvido na ação, ele é que faz.

Observe:

"Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva..."

Interessante como podemos ser agentes de transformação da nossa própria história. Além dos verbos no presente do indicativo, temos o verbo fazer que está no infinitivo e sugere uma opção do desenhista em fazer o castelo, já que é fácil fazer. Outro verbo interessante é o verbo dou que embora esteja na presente do indicativo, ou seja, de fato está acontecendo a ação e o sujeito a está praticando, o verbo é antecedido pelo pronome pessoal oblíquo na primeira pessoa "me" dou, que deixa o verbo na voz reflexiva, logo o sujeito é o autor da ação e a pratica contra si!
Toquinho nos ensina isso nessas sentenças que podemos ser sujeitos ativos na construção da nossa própria vida, com opções e nos presenteando com o que temos e fazemos.
A incerteza e as coisas que fogem dos nossos planos também é uma mensagem revestida de uma linguagem deliciosa:

"Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho Azul do papel"

Quando bem captada essa mensagem não gera desespero, pois a vida em Aquarela é sempre possibilidades, e outra, é dinâmica! Ao mesmo passo que podemos transformá-la, somos alvos de suas incontinências, as vezes, ela foge ao nosso domínio!
Diante dessa incerteza e das contingências da vida, Toquinho nos dá uma dica:

"Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu..."

Crie, aprenda e improvise... Quem sabe você pode voar?

"Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar..."

Fico confuso o que será que tem nesse avião? Enquanto isso o barquinho está navegando. Seriam as possibilidades da vida? Por que iríamos querer que ele pouse? será a morte? acho que não, seria muito prematuro sua partida! ele acabou de sair por entre as nuvens. Ao mesmo passo que partir seria importante, seria a oportunidade de quem está indo! Mas diante das oportunidades "se a gente quiser ele vai pousar...".
As coisas começam a ir e vir na música Aquarela... e as formas simples e abstratas já são complexas e concretas, e as cores? Ficamos adultos!

"Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está..."

Partida novamente é um tema explorado.
A Gaivota voa longe, bem longe e vai!
Um Barquinho a vela aparece e segue seu rumo.
O Avião surge e parte!
O Barco está de partida!
As coisas sempre estão indo, se vão! Mas as pessoas importantes estão sempre em volta, os amigos, a diversão. As experiências que aqui se apresentam são em conhecer o mundo a sua volta. E o futuro, quanta incerteza? embora o a caminhada que o menino faz seja algo extremamente pessoal, ele caminha, mesmo sozinho ou não, a caminhada é algo que cada um fará, mas o futuro, espera por todos!

"E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar

Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar [...]"

Novamente a vida impera e o futuro tão incerto e tão impessoal pode nos fazer rir ou chorar, interessante é que embora, nos preparamos, planejamos, esperamos. Porém tudo é incerto em Aquarela, Saiba viver! Toquinho usou está metáfora da astronave de forma tão certeira, por que não avião? ou carro e trem?
A astronave nos leva a lugares inimagináveis, que mesmo diante do conhecimento humano, sempre nos deparamos com algo que não conseguimos lidar ou não conhecemos, talvez podemos saber conduzir a nossa própria astronave, mas não podemos determinar ou controlar os obstáculos que virão!
De fato, a vida não é um trem sobre os trilhos tão certeiros, nem um carro na pista, muito menos um avião em sua rota aérea, é uma astronave, tudo lá é diferente! Eis o futuro!
Da individualidade da primeira estrofe a comunidade no final da vida, observe:

"Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."

A aquarela da vida vai acabar e a beleza das cores serão ofuscadas, todos caminham por essa passarela e ela um dia perderá sua cor! a morte chegará para todos, e por que não estar sempre cercado das pessoas que amamos?
Imagina, as crianças compreendendo isso? talvez se assustariam, mas quando compreendemos que isso é uma realidade para todo o ser humano, temos a oportunidade de mudar a nossa história e aprender a viver e lidar com os medos que nos surgem desde a infância!

POR FIM:

"Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)"

Entenda, embora tenhamos o poder de criar, mudar e transformar as coisas, tudo irá se acabar, devemos saber viver e lidar com a vida.
Não vejo morte em Aquarela, vejo vida e existência!

PERGUNTO:
Seu estojo escolar está com você?
O que acha de começar a desenhar e a colorir a sua vida?

Um grande abraço!

Fonte: www.kontatoimediato.blogspot.com

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