sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O silêncio

Por Luciana Louzada

Basta um olhar pela cidade para notar

Nos muros, ásperos, as palavras escorrem

Os outdoors amontoados provocam turbulências nos olhos



As palavras não são ditas apenas

Na disputa pela atenção, elas precisam gritar



Nossos ouvidos estão anestesiados ao silêncio

Desacostumados a ouvir o silêncio

Somos provocados a todo instante a falar

Não importa se alguém vai ler o último post,

Na web, no celular, no ar.

O que importa é falar

O que não vale é silenciar



O exercício da leitura é algo penoso

Imagine deitar em uma rede e ouvir o silêncio das palavras

Em cada linha ser tele transportado a uma outra dimensão



Diante do mais fiel dos amigos

Abrimos a boca a falar,

Exigimos, emitimos nossos desejos

O senhorio, a sua vontade fica em segundo plano

O que importa é o meu querer



A lista de exigências chega ao fim,

Terminamos a falação, que chamamos de oração

Abrimos os olhos e nem sequer escutamos o que ele tem a dizer

Não temos tempo para ouvi-lo

O barro dita às regras ao oleiro

E prosseguimos os dias assim

Com essa visão tacanha,

Como se Deus fosse apenas mais um lugar

Mais um lugar para que eu dispare a falar.

(Luciana Louzada é formada e pós graduada em jornalismo pela PUC de Belo Horizonte, MG, mestrando em jornalismo pela UFMG )

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