Por Luciana Louzada
Basta um olhar pela cidade para notar
Nos muros, ásperos, as palavras escorrem
Os outdoors amontoados provocam turbulências nos olhos
As palavras não são ditas apenas
Na disputa pela atenção, elas precisam gritar
Nossos ouvidos estão anestesiados ao silêncio
Desacostumados a ouvir o silêncio
Somos provocados a todo instante a falar
Não importa se alguém vai ler o último post,
Na web, no celular, no ar.
O que importa é falar
O que não vale é silenciar
O exercício da leitura é algo penoso
Imagine deitar em uma rede e ouvir o silêncio das palavras
Em cada linha ser tele transportado a uma outra dimensão
Diante do mais fiel dos amigos
Abrimos a boca a falar,
Exigimos, emitimos nossos desejos
O senhorio, a sua vontade fica em segundo plano
O que importa é o meu querer
A lista de exigências chega ao fim,
Terminamos a falação, que chamamos de oração
Abrimos os olhos e nem sequer escutamos o que ele tem a dizer
Não temos tempo para ouvi-lo
O barro dita às regras ao oleiro
E prosseguimos os dias assim
Com essa visão tacanha,
Como se Deus fosse apenas mais um lugar
Mais um lugar para que eu dispare a falar.
(Luciana Louzada é formada e pós graduada em jornalismo pela PUC de Belo Horizonte, MG, mestrando em jornalismo pela UFMG )
Nenhum comentário:
Postar um comentário