Por Leandro Louzada
Texto Base: III João
1-4
Introdução: III João é juntamente com II João a
menor carta do NT, segundo John MacArthur elas contém menos de 300 palavras
gregas. O tema central de III João é: “Hospitalidade
uma marca do verdadeiro cristão”.
Estamos tratando então de uma carta, mas como era uma carta
no mundo antigo?
Dos 27 escritos do Novo Testamento, 21 são cartas. No século
I, não existia tantos recursos de comunicação como temos hoje, por isso as
cartas eram o meio mais usado para comunicação.
Também devido o crescimento rápido da Igreja, a forma
encontrada para manter contato entre os cristãos por uma meio flexível, barato
e ágil era a utilização das cartas.
As cartas também era uma forma de “marcar presença”, Leon
Morrin diz que: “Poderíamos chamar isso de um meio para manter contato” .
A maioria das cartas do mundo antigo era constituída de três
partes:
1.
Introdução: Contendo uma saudação,
votos de saúde e benção;
2.
Corpo da carta: Desenvolvimento dos
temas propostos, ligando a introdução ao corpo e o corpo a conclusão;
3.
Conclusão: Termina com saudações de
diversos tipos e as cartas do Novo Testamento (algumas), acrescentam uma
doxologia ou benção e diversos pedidos, desde oração (Romanos), até um pedido
para trazer uma capa e livros (II Timóteo).
Agora que sabemos o que é uma carta e como era utilizada,
precisamos saber quem, onde e quando a carta de III João foi escrita?
Alguns estudiosos defendem que esta carta foi escrita por um
presbítero chamado João e não tinha qualquer relação com o apóstolo João. Porém
essa posição teológica nunca ficou provada, muito menos a existência deste
homem.
A tradição diz que tanto as três cartas de João, como o
Evangelho de João e o livro do Apocalipse, foram escritos pelo apóstolo João,
aquele conhecido como apóstolo do amor. Basta fazermos uma leitura superficial
dos seus escritos que observaremos grandes semelhanças.
João escreve essa carta segundo MacArthur, provavelmente
entre os anos 90-95 a.C, quando o presbítero estava pastoreando a Igreja de
Éfeso.
Diante disso, passaremos a analisar os 4 primeiros versos
desta carta, a introdução da mesma.
1)
Não ame apenas de palavras (v.1).
1.1. João se apresenta como presbítero
Isso significava que era um ancião encarregado da
administração e governo de Igrejas individuais. João era o responsável por
algumas igrejas, mesmo não estando pastoreando as mesmas efetivamente.
1.2. João escreve ao amado
O termo no grego utilizado como amado, significa aquele que
possuo profundo laço de afetividade, podendo se referir a Deus ou irmão. Aqui
precisamente João está usando o termo para enfatizar Gaio.
Gaio era um cristão muito amado por João, não sabemos bem
certo quem era Gaio, seu nome era um dos 18 mais usados no mundo grego-romano,
mas sabemos como o mesmo era querido e se portava diante da comunidade que
vivia.
1.3. João o ama na verdade
João possui um profundo laço afetivo com Gaio e agora
enfatiza isso, dizendo que o ama, no original significa que o valoriza e
manifesta generosa preocupação pelo “Amado”, essa preocupação e valorização o
impulsiona a cuidar e desejar continuamente o cuidado daquele irmão.
Mas o presbítero faz questão de mostrar que faz isso na
verdade, ou seja, não somente em palavras, mas em conduta, sinceridade e
veracidade.
João não só fala, antes, demonstra com suas atitudes e
integridade de coração o amor.
2)
Não seja apenas alvo do amor,
transmita o amor (v.3-4).
2.1. João deseja o bem estar de Gaio
Como já foi mencionado, nas cartas antigas, geralmente votos
de saúde são mencionados para o receptor ou receptores da carta. João deseja
prosperidade e saúde para Gaio. Prosperidade é viver plenamente, contente e
tendo as necessidades supridas e saúde é ter um corpo ausente de problemas
físicos.
2.2. João quer enfatizar e apontar a vida
espiritual saudável de Gaio
O presbítero usa a palavra psique, que significa a sede dos
desejos, sentimento e apetites. Ele o deseja prosperidade e saúde, assim como
tem uma vida espiritual saudável. Gaio era um homem equilibrado.
2.3. João mostra que uma vida espiritual
saudável, está associada ao testemunhar e andar na verdade.
Se notarmos, veremos que João estava falando de amor e
verdade, agora muda para apenas verdade. Mas não podemos dicotomizar o amor da
verdade, ambos estão entrelaçados, não tem como viver na verdade sem o amor e
assim vice-versa. Andar no caminho da verdade significa andar no caminho do
amor, lembra o que o próprio João transcreveu: “E disse Jesus: Eu sou o
caminho, a verdade e a vida...” (João 14.6a) e “Aquele que não ama não conhece
a Deus, pois Deus é amor” (I João 4.8).
Assim, como João não ama Gaio só de palavras, o mesmo
salienta que o “Amado” também vive desta maneira, não é apenas alvo do amor,
porém, transmite esse amor, algo reconhecido e experimentado por aqueles que
estão a sua volta.
2.4. Diante disso João pode ter tranqüilidade
O verbo grego utilizado tem o significado de estar calmamente
feliz, confortável, em paz e tranqüilo.
João sabendo que Gaio não é somente alvo do amor, mas
transmite esse amor com sua vida e palavra, fica extremamente calmo, tranqüilo
e confortável.
3)
Não fique estagnado, cresça na
verdade e amor (v.4).
3.1. João mostra que andar na verdade
significa crescer na verdade, sendo assim, crescer no amor.
Crescer em uma vida de boa conduta, um andar e viver sincero
e em tudo que fizer, falar ou pensar que seja com veracidade.
Mas isso não pode ser apenas por um momento ou tempo, por sua
vez, deve ser continuo, o que a Bíblia chama de crescer de Glória em Glória a
maturidade cristã.
3.2. Diante disso João pode se alegrar
Gaio estava testemunhando, vivendo e progredindo na verdade.
Diante disso, João sente profunda alegria, deleite e satisfação. João faz
questão de dizer que o considerava o seu filho na fé, a palavra no grego pode
ser traduzida também como aluno e discípulo. Gaio era um discípulo, o discípulo
estava sempre a disposição do seu mestre para crescer e aprender, ele aprendia
no caminhar e viver.
Gaio não era apenas alvo do amor, mas transmitia o amor,
todos que estavam a sua volta viam o seu agir e progresso, mas mesmo assim ele
ainda estava progredindo e sua caminhada ainda não havia acabado.
Conclusão: João amava Gaio não só com palavras,
por sua vez, Gaio era o alvo do amor, mas também transmitia esse amor e não
apenas vivia e transmitia esse amor fincando na verdade, como a cada dia
buscava andar e caminhar na direção desta verdade que estava ancorada no amor
de Deus.
Será que estamos amando o outro com palavras e atitudes?
Estamos querendo ser amados e cuidados, mas será que amamos e cuidamos? Como
está nossa vida espiritual, estamos progredindo na verdade? Qual o sentimento
dos outros ao nosso respeito, as pessoas sentem paz, descanso e tranqüilidade
quando pensam ou escutam sobre nós ou ficam angustiadas e tristes?
Qual atitude tomaremos a partir de hoje? Andaremos no caminho
da verdade e amor ou não?
A Deus seja dada toda glória, amém!
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