Por Leandro Louzada - resumo do artigo de José Adriano - Professor de exegese do NT na Faculdade Unida de Vitória-ES
1 Corintios 12.31b-13.13 é um discurso demonstrativo que exalta o amor. O texto é uma digressão, localizada entre duas seções que falam sobre dons espirituais e seu lugar na vida da comunidade cristã.
A retórica demonstrativa enfatiza os elementos do estilo e os comentaristas, em geral, indicam o estilo elevado e poético deste capítulo. O conceito de amor era utilizado como argumento para alcançar concórdia social e contra a divisão (Platão Simpósio 197 C-D). O amor é o caminho da vida cristã. Os três primeiros versos formam o poema sobre o amor; o restante do capítulo é prosa grega, talvez a melhor prosa de Paulo.
1 Coríntios 12.31b-13.13 apresenta características que, estilisticamente, o distinguem das demais seções de 1 Coríntios. O estilo distingue também essa passagem das que estão à sua volta. Repetições de palavras e expressões, paralelismo, anáfora, intertextualidade e o ritmo das sentenças dão ao texto uma aparência artística especial.
O paralelismo ajudam a compreender as idéias que se complementam, se contrastam e se expandem, bem como mostrar que os significados transmitidos pelas construções são simétricos, cuja função contribui para reforçar e esclarecer o sentido do texto.
A figura de linguagem precisa ser destacada neste texto, a hipérbole, mostrando a superioridade do amor sobre os dons espirituais; a prosopopéia, que atribui a palavra a amor a ações humanas; a anáfora, a expressão se não tivesse o amor aparece três vezes nos versos 1-3; a assíndeto, a enumeração das virtudes superiores segue em curso rápido, até chegar ao “maior destes é o amor” e polissíndeto, a conjunção “e” ocorre em todo o texto.
Também existe o uso de fontes em 1 Coríntios 13. O uso da literatura clássica, citações ou alusões ao Antigo Testamento, citação ou alusão ao Novo Testamento
1 Coríntios 12.31b-13.13 é um discurso demonstrativo, primeiro pela predominância do estilo enumerativo dos atributos do amor; segundo, pela maneira de descrever e compara duas realidades, como por, exemplo: “criança-homem”, “verdade-injustiça”, “perfeição-limitação”.
Como discurso demonstrativo 1 Coríntios 13 explica, no quadro da estrutura “não isso, mas aquilo” (VV.4-7), por que uma coisa comparada com outra tem direitos mais sublimes e de maior valor. Há um aspecto de legitimação e apologética, pois se insinua uma decisão.
A ocorrência do verbo “mostrar” em 12.31b não é acidental, sendo a única vez que Paulo o utiliza. O uso do verbo indica que Paulo passa de uma argumentação deliberativa (1 Coríntios 12 e 14) a um excurso demonstrativo, no qual apresenta os carismas em contraste com o amor.
1 Coríntios 12. 31b-13.13, por meio de antíteses, faz uma comparação entre o amor e os carismas. O texto apresenta um enquadramento simples: o proêmio (introdução): “Eu passo a mostrar-vos um caminho sobremodo excelente” (12.31b), é seguido pelo corpo de discurso ou argumento, que fornece o material necessário ao pano de fundo para a proposição (13.1-12). No epílogo (conclusão: 13.13), freqüentemente encoraja os ouvintes e/ou leitores a concordar com a posição que expressa no que foi apresentado.
O amor ultrapassa os carismas. O texto declara a preeminência do amor sobre a fé e a esperança.
Na primeira carta de Paulo aos coríntios, a discussão sobre os dons espirituais constitui uma unidade separada. Paulo trata de dois entre os muitos carismas existentes na Igreja de Corinto, ou seja, “dom de línguas” e “profecias” que são proeminentes e formam o tema que unifica 1 Coríntios 12.14.
Paulo inicia o texto referindo-se ao dom de línguas. Se esse carisma tornar-se ininteligível, analogia, com o “bronze que soa ou um como o címbalo que retine” torna-se apropriado. Paulo ataca também os que tem fé ao ponto de transportar montanhas, profetizam e reivindicam ter conhecimento dos mistérios da fé cristã, dão os seus bens ou a própria vida em favor de outros. Se tais pessoas têm esses dons, mas não têm amor, isso não vale nada.
A simetria das orações que formam a primeira parte do texto conduz os leitores à conclusão exposta por Paulo: o que desqualifica a pessoa e invalida seu carisma é um estilo de vida carente do amor, que desemboca no menosprezo às outras pessoas.
A segunda seção (13.4-7), normalmente apresentada como uma descrição do caráter de Cristo indica a forma como o cristão deve agir e a maneira como o próprio Paulo procura se comportar. Paulo apresenta também a maneira como age a pessoa que ama.
Há dois aspectos que englobam as demais atitudes e ações da pessoa que ama (13.4a): ela suporta (“é suporte”) aos demais e, ao mesmo tempo, ultrapassa essa atitude na prática de boas ações em favor da comunidade.
A seção finaliza com quatro frases que resumem tudo o que foi dito antes, reforçando seu efeito por meio de um ritmo produzindo pela reiteração da palavra tudo: “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (13.7). A capacidade dos membros de uma comunidade de se tolerarem mutuamente está em relação direta com a disposição positiva de uns para com os outros.
A terceira parte do texto (13.8-12) está marcada por duas afirmações: “O amor jamais acaba” (13.8a) e “Permaneçam na fé, a esperança e o amor, mas o maior deles é o amor” (13.13).
“O amor jamais acaba” (13.8). Carismas como profecia ou conhecimento foram dados para capacitar o fiel para perseverar no tempo presente. No momento devido eles serão nada. Alguns dentre os coríntios pensavam que tinham o conhecimento de todas as coisas no “agora” da existência cristã. Essas pessoas não conseguem perceber que o conhecimento e mesmo a profecia que têm agora é parcial, que o conhecimento total só será possível no eschaton.
No contraste do “já” e o “ainda não” reaparece o tema do conhecimento, tão estimado pelos coríntios. Paulo, contudo, relativiza o conhecimento e destaca seu caráter parcial (13.12b). A plenitude do conhecimento sôo estará ao alcance dos cristãos quando a história humana atingir seu ponto mais alto no eschaton.
A comunidade cristã de Corínto foi fundada pelo apóstolo Paulo em uma de suas viagens missionárias (Atos 18.1-11). Na cidade havia pessoas de todas as partes do império romano. Essa diversidade estava presente na vida religiosa da cidade, que abrigava cultos de várias divindades do mundo grego-romano.
Na leitura da carta escrita por Paulo a essa comunidade, nota-se a tensão existente os membros da comunidade, bem como o conflito da parte de alguns dos seus membros com o seu fundador. Paulo procura corrigir as divisões e partidarismo (1.10-4.21), imoralidade e processo entre irmãos (5.1-6.20); combate a participação nas comidas sacrificadas aos ídolos (8.1-11.1)
Além disso, os que se diziam espirituais utilizavam os carismas para sua satisfação e projeção pessoal (12.1-14.40). Eles acreditavam que tinham um profundo conhecimento dos mistérios de Deus e que conheciam todas as coisas.
Nesse contexto, o ensino sobre o amor é ponto mais alto do ensino de Paulo aos coríntios. Ele fala do “amor para com os outros e não para consigo mesmo”. Para Paulo, o amor deve anteceder todas as atitudes, da mesma forma que se expressou na pessoa de Jesus Cristo. Amor não é somente uma idéia, ou tampouco um fator motivador para o comportamento. O que está em jogo, então, não é realizar qualquer atividade sem amor, mas a própria pessoa sem amor.
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