Por Leandro Louzada
A missão cristã sempre se realiza em um contexto sócio-cultural específico. O primeiro grande movimento missionário da Igreja Cristã foi o iniciado por Barnabé e Paulo (Atos 13,1ss) e se pode perceber as tensões e conflitos decorrentes do anúncio do Evangelho às diversas culturas gentílicas do mundo romano da época.
No segundo século da era cristã, o confronto entre o Evangelho e a cultura greco-romana predominante ocasiona o surgimento de teólogos e líderes eclesiásticos que se esforçam por tornar a mensagem do Evangelho significativa em seus contextos, ao mesmo tempo em que lutam para não perder a fidelidade ao conteúdo da revelação divina. E assim, durante toda a história da Igreja encontramos a tensão entre: Evangelho, Igrejas e Cultura, especialmente manifesta nas formas de Cristandade assumidas pelas Igrejas Cristãs.
Diante dessa realidade histórica, uma tarefa fundamental da Teologia da Missão é posicionar-se a respeito das relações entre Evangelho e Cultura.
O Evangelho não é uma cultura, mas um conjunto de formas simbólicas originariamente construído através de um processo histórico em que Deus se revela à humanidade, no âmbito da sociedade e cultura judaicas, culminando no evento-Cristo, e que tem se difundido a inúmeras outras culturas e sociedades na história humana. Desta forma, percebemos que o Evangelho possui uma dimensão transcendental e uma contextual, que são inseparáveis.
O Evangelho é transcendência encarnada em uma cultura específica, e se difunde a todos os povos e culturas preservando esse caráter de transcendência encarnada, o Evangelho não se conforma a nenhuma cultura em particular, mas faz sua casa em todas elas.
Como conjunto de formas simbólicas, o Evangelho é encontrado primariamente nas Escrituras Cristãs do Antigo e Novo Testamentos e, secundariamente, nas ações, gestos, rituais, símbolos e teologias da Igreja Cristã no decorrer da
história. Na medida em que a Palavra de Deus se encarna na igreja, o evangelho toma forma na cultura.
Tendo em vista que a encarnação do Evangelho somente ocorre mediante o agir da Igreja, é necessário reconhecer que o ápice da expansão missionária
das diferentes Igrejas Cristãs européias – e posteriormente as norte-americanas – ocorreu durante o avanço do colonialismo ocidental norte-atlântico. As igrejas fundadas pelo movimento missionário norte-atlântico do século XIX, nasceram nessa situação de não-contextualização. O movimento missionário, na avaliação de Mendonça e Velasques, estava dividido entre uma corrente “calvinista” que investia na educação juntamente com a evangelização, e que acalentava “a idéia de que a cultura protestante, fluindo através da educação, acabaria por transformar a sociedade para melhor e inserí-la no corpus christianum”. A teologia conversionista missionária consistia num processo diferente de mudança cultural. “A conversão era individual e consistia no rompimento abrupto do indivíduo com seu meio cultural através da adoção de novos padrões de conduta opostos àqueles em que havia sido criado.” Visa, isto sim, destacar a delicada situação em que se encontram as Igrejas evangélicas brasileiras, no tocante à relação entre Evangelho e Cultura, especialmente neste importante período de crescimento da visão e prática de missões transculturais.
Dessa forma, para o movimento missionário brasileiro, a questão da relação Missão e Contexto se apresenta como um desafio teológico, missiológico e missionário de magnitude.
O evangelho deve ser anunciado em todas as culturas, mas o anuncio do evangelho não deve resultar na mudança da cultura de determinado lugar. A pregação precisa ser contextualizada, respeitando o meio pelo qual esta sendo anunciada. Por exemplo, não posso chegar em uma tribo indígena, pregar o evangelho e como resultado da minha pregação exigir que todas as mulheres daquele lugar, coloquem sutiã e blusa. O evangelho tem que gerar uma mudança de pensamento, uma renovação de valores éticos e não culturais.
Resenha do artigo "Evangelho e cultura", do doutor em teologia Júlio Zabatiero.
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