Por Rev. Marcos Azevedo
Quando pensamos na temática da ação diaconal da Igreja, somos, na verdade, desafiados, a resgatar a visão de missão integral da Igreja. Sobretudo em nosso país, marcado por todos os lados pelos mais sombrios sinais de morte.Infelizmente detectamos que o termo diaconia, muitas vezes, tem sido associado a uma atividade meramente secundária da Igreja. Na verdade, a grande missão da Igreja seria a proclamação do Evangelho. Dizem então, que a proclamação teria uma dimensão espiritual e poderia ser cumprida, simplesmente, através do discurso. O resultado dessa espiritualização da missão da Igreja relegou o ministério da prática a um segundo plano. Como se não bastassem, muitos ainda associa-se o termo diaconia a mero assistencialismo (Isaías 61.1-11).O livro dos Atos dos Apóstolos (6,3-6) narra a instituição dos sete diáconos, homens estimados e cheios do Espírito e de sabedoria ... e escolheram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Eles servem à mesa (caridade) e pregam a Palavra (Estevão). Assim como o Cristo, a sua Igreja é essencialmente servidora. A identidade do dom do Espírito Santo é sinal da identidade de sua missão. Com o Apóstolo Paulo, podemos afirmar que os ministros da Igreja “são servidores de Cristo e dispensadores” dos ministérios de Deus, isto é, estão a serviço da realização histórica do desígnio da salvação. São os “diáconos da Nova Aliança”, colaboradores de Deus (1Cor 3,9), servidores de Deus (1Ts 3,2) na obra da salvação; existem para realizar a obra de Deus (1Cor 16,10).Portanto, a vida da Comunidade diaconal, no exercício de sua espiritualidade, é, pois, a espiritualidade do Cristo servidor: O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate pela multidão dos homens (cf. Mc 9,35; Mt 23,11; Lc 22,26-27).Vejamos o texto a seguir retirado de um missionário da SEPAL: “Que Igreja é essa que procura hierarquizar-se, buscando títulos de apóstolos e bispos para seus pastores e líderes, mas que menospreza mostrar o rosto de servos de uns para os outros e do verdadeiro sacerdócio universal? Que Igreja é essa que demonstra tanto vigor espiritual, mas que parece colocar o objetivo final no império pessoal e não na manifestação da glória de Deus entre todos os povos?".O Rev. Alberto F. Roldán, em um Seminário de Missão e Identidade, em maio de 2000 afirma o seguinte: “[...] a presença do Reino de Deus não deve ser buscada somente em experiências espirituais ou de salvação pessoal, mas também na superação da miséria econômica e no pecado social que as economias de mercado e a globalização não somente não solucionam mas que em alguns sentidos aprofundam [....] a missão da Igreja é messiânica porquanto quem a começou foi Jesus de Nazaré como o Messias. É carismática no sentido de que o Espírito Santo a dirige e dinamiza e seu alvo é a glória do Pai. Em suma, se trata de uma missão trinitária onde o Pai é glorificado pela obra do Filho e no poder e comunhão do Espírito Santo." Portanto, refletir sobre a temática da ação diaconal da Igreja, implica em resgatar a visão de missão integral da Igreja, sobretudo em nosso país, marcado por todos os lados pelos mais sombrios sinais de morte e tão carente de mãos estendidas que possam exercer a misericórdia e a compaixão.Não tenho dúvida de que a ação diaconal da Igreja nasce do encontro com a fé no Cristo ressurreto. Sendo assim, necessitamos da consciência do Deus que nos chama e nos vocaciona. Para o cristão está claro que quem chama é Deus. Somente ele pode entrar na vida humana e propor ao homem um destino que abrange toda a sua vida. Deus é, ao mesmo tempo, imanente e transcendente. Voz e vocação têm a mesma raiz e ambas se unem em Deus que chama.É preciso, no entanto, descobrir onde Deus se encontra e através de que meios nos chama. Afirmar que Deus está no principio da vocação não significa que nos chama sempre direta e imediatamente. Deus tem, seus caminhos. Não chega até nós somente pela via dos acontecimentos extraordinários. Pelo contrário, prefere os meios normais, comuns, os acontecimentos de cada dia e neles está presente como incentivador e como condutor dos homens.Portanto, a ação diaconal da Igreja passa, primeiramente, pela consciência do nosso chamado, no qual Deus nos vocaciona para realização de sua obra, promovendo a restauração da sociedade, por meio do cumprimento da missão confiada às nossas mãos. Mas também passa pelos paradigmas da doação, do serviço e do sacrifício, tendo Jesus Cristo como seu maior e mais elevado modelo (Mt 20.28; Jo 13.12-17; Fp 2.5-11). Ou seja, Deus, pela sua graça, serviu-nos em primeiro lugar, enviando a Jesus Cristo ao mundo. Ele nos presenteia e nos envolve com graça e amor. Diante do chamado de Deus para o encontro com Jesus Cristo, somos desafiados a responder com a palavra da fé. Penso que a palavra acolhida diz mais que resposta. A resposta a Deus que chama só pode ser dada mediante a fé, que se traduz em obediência. Acolher é abrir a porta ao chamado divino, e se dispor a caminhar na direção proposta. Na análise da vocação e tão importante a resposta quanto o chamado. Por isso, é preciso tomar consciência das dificuldades a enfrentar. A partir dessa realidade eu e você podemos e devemos amar e servir. Portanto, qualquer ação diaconal pressupõe doação e sacrifício, visto que Cristo também se doou para que a humanidade obtivesse verdadeira oportunidade de vida. Ele mesmo disse: “não vim para ser servido, mas para servir”.Então, perguntamos: o que estamos esperando, devemos pôr a mão no arado e realizar a grandiosa e maravilhosa obra que Deus coloca em nossas mãos para realizar. Saia do seu lugar e venha servir ao Senhor. Soli Deo Gloria!
Rev. Marcos Antonio Farias de Azevedo é pastor da Igreja Presbiteriana em Mata da Praia, Vitória – ES, doutor em Teologia, professor do Seminário do Rio de Janeiro e da Faculdade Unida de Vitória – ES.
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